Uma vez, li por aí: "se uma mulher tem mais livros do que sapatos, case-se com ela". Me lembrei muito desta frase neste feriado, quando comprei um sapato e um livro, ambos por praticamente o mesmo valor. E fiquei pensando de que maneira estas duas peças interferem em uma relação conjugal e ainda por cima com tanto peso de decisão.
Quer dizer que uma mulher passa a ser avaliada (e qualificada) pela quantidade de calçados que tem no armário ou a variedade de obras literárias que coleciona na estante? E o pior: é isto que a torna apta ou não a juntar as escovas de dente com alguém?
“É ISSO MESMO, PRODUÇÃO?”
“Ah, Mariana, deixe de ser tão radical e extremista, garota!”
Enquanto muitos estampam esta frase nas redes sociais achando que estão defendendo a bandeira daeducação, na verdade estão reforçando um machismo intrínseco que assombra a liberdade de ser da mulher. Além de transformar o casamento em um “negócio”, no qual o “cliente” deve estar atento às ofertas do mercado.
Fiquei, então, imaginando avaliadores entrando na minha casa e observando quantos sapatos e livros eu tenho, quais suas condições de uso, a altura dos saltos e número de páginas... Qual nota será que eu receberia? Será que alcançaria a média?
Mas no final de tudo isso, eu gostaria mesmo de entender qual é a relação existente entre livros e sapatos. Não poderiam ser perfumes? Ou brincos... Ah, se o autor desta frase soubesse o tanto de lenços e cachecóis que tenho guardados e o quanto eles não interferem em meu hábito de leitura.
A impressão que tenho é de que não nos cansamos nunca de colocar rótulos nas pessoas. E eu encerro meu pensamento usando outra frase bastante batida: “não avalie um livro pela capa”. Você pode se surpreender (ou se decepcionar) com o conteúdo interno. E assim somos nós, um livro com uma capa e uma história.