Sinopse:
Filha do fogo - 12 contos de amor e cura, de Elizandra Souza, oferta aos leitores uma incursão por histórias de força incomum, protagonizadas em sua maioria por vozes femininas negras, como a autora. Mulheres que manifestam os desafios, as decepções e as conquistas que permeiam o percurso daquelas que afrontam os códigos consolidados na sociedade atual. Uma sociedade ainda tão hierarquizada e que permanece se recusando a enxergar a viabilidade de modos de viver mais libertários, igualitários e humanos nas relações cotidianas.
Narrar é um fenômeno transformador. Seja para aquele que toma para si o desafio de conceber suas histórias, como para aquele que as recebe, o universo de vivências que compõe uma narrativa deixa marcas que ficam para sempre. Pode-se dizer, sem sombra de dúvidas, que os contos integrantes deste livro de Elizandra Souza possuem este traço singular das narrativas construídas com intensidade. É possível intuir os significados delas para o processo de autoconhecimento da autora como indiciar os impactos que elas terão nas vidas de quem se dedicar a nelas mergulhar.
Resenha:
Este livro foi sem dúvida uma leitura incrível, um dos melhores do ano com toda certeza.
Este foi o meu primeiro contato com a escrita da Elizandra e estou ansiosa para ler outros livros de sua autoria. Este livro encanta, envolve, enriquece, te cativa, não há como lê-lo e ser a mesma pessoa que antes. Filha do fogo é um livro bem rápido de se ler (não que seja uma leitura fácil), mas é incrível a forma como ela trás a escrita negra em todos os contos.
"Fechei meus olhos, sentindo o vaivém... O cajueiro soltava as folhas como se estivesse emocionado... O vento acariciava o meu rosto... Me sentia completa e livre no meu balanço. Eu estava no céu!"
Em todos os contos, as mulheres são protagonistas, desde a infância até chegar na fase adulta e em diversas situações, eu como mulher cis branca, a leitura deste livro me fez refletir sobre a vida, A Eliza (já estou criando apelidos), relata aspectos como violência, racismo, religião, cresças, vidas amorosas, estudos, militância, identidade, ancestralidade. É incrível a forma como ela conseguiu juntar todos esses temas em contos fluídos e de maneira tão sucinta
Todos os contos são incríveis, mas o meu preferido foi “O tênis de Obary”, onde podemos entender como metáfora o sapato apertado com a nossa própria vida.
Todos os personagens são tão reais, todos os contos são intensos, trazendo mais a fundo a experiências vividas por mulheres negras, nos mostrando uma jornada de autodescoberta e transformação. Este é um livro que recomendo a toda sociedade como um todo.
"Enquanto escrevemos, lidamos com a iminência do fim do mundo: a desconfiança baseada apenas na cor da nossa pela, o preterimento nas relações afetivas, em detrimento de padrões de beleza mais próximos aos caucasiano, e o apagamento de nossas existências por meio da cegueira seletiva que acomete toda a nossa sociedade e invisibiliza as conquistas e qualidades da população negra em nosso país"
O projeto gráfico deste livro está de tirar o folego, a diagramação, a capa, as ilustrações, tudo está magnifico, lhe convidando a emergir de corpo de alma nesta leitura tão bela.