Nova antologia mostra a força da literatura de horror nacional - BEDA#7




Não adianta fugir. Para onde quer que olhemos, eles estão lá. Dia após dia, faça chuva ou sol, aproximam-se. Vêm devagar, mas sempre, esgueirando-se, roubando nosso sono, espalhando-se por todos os cantos deste mundo frágil. E carregam uma obsessão: difundir o medo. É para isso e nada mais que existem — hoje, em quantidade provavelmente sem precedentes. É para isso e nada mais que existem os livros de horror, e tudo indica que eles vêm para ficar.

Até porque a literatura de horror tem um poderoso aliado: o cinema. Sempre populares entre as massas, os filmes do gênero ajudam a alavancar os livros, que retribuem inspirando diretores e roteiristas a realizarem adaptações; séries e games também participam intensamente desta dinâmica. O resultado é um contexto bastante favorável para leitores, espectadores, autores, diretores, roteiristas… enfim, para amantes e praticantes do horror em geral.

Cenário vibrante

No Brasil, a tônica é a mesma. A cada novo mês, dezenas de novos títulos de horror chegam às estantes das livrarias, sejam elas físicas ou virtuais. Nas listas de mais vendidos por aqui, sempre há algum livro do gênero — muitas vezes, graças a Stephen King. Existe até uma editora totalmente dedicada à publicação de literatura sombria, a Darkside.

Diante desse cenário vibrante, o jornalista e escritor carioca Vitor Abdala resolveu organizar uma coletânea totalmente orientada para o horror: as Narrativas do Medo. À moda das antologias no sentido estrito da palavra — aquelas que pretendem apresentar um retrato fiel da produção literária de um período e/ou de um lugar —, a obra funcionaria também como um marco: uma demonstração de força de uma vertente ficcional que costuma ser considerada “menor” em várias esferas do sistema literário.



Membro da Horror Writers Association (Associação de Escritores de Horror) dos Estados Unidos, Abdala também tirou inspiração da experiência do país. “A ideia surgiu ao constatar que, nos Estados Unidos, essas antologias são comuns, mas ainda raras aqui no Brasil,” conta o organizador.

O primeiro volume foi publicado em 2017 e reuniu 17 autores. No segundo volume, que acaba de ser lançado pelo selo Neblina negra da editora da Copa Books, Abdala congregou um número ainda mais expressivo: 29 artistas participam da publicação.

Um grupo ecumênico

Artistas, sim, pois a antologia também reúne cineastas, quadrinistas, roteiristas, atores, músicos e outros criadores. Em comum, todos compartilham a paixão pelas histórias de horror na forma que deu origem a qualquer outra expressão artística: a literatura.

“Quis pegar nomes que se destaquem no cenário nacional de terror, de todas as regiões do país, mas não necessariamente escritores”, afirma Abdala. “E também dar oportunidade a novos nomes que têm grande potencial. Por isso, tanto no primeiro quanto no segundo volume, temos de cineastas a autores independentes (que publicaram por conta própria ou por editoras pequenas).”

Entre os escritores, alguns destaques são Rodrigo de Oliveira, responsável pela maior série de zumbis por aqui, As Crônicas do Mortos (Faro Editorial), que vendeu mais de 100 mil exemplares, e Cesar Bravo, autor do já aclamado Ultra Carnem (DarkSide Books). Já entre outros nomes que integram a antologia, estão o cineasta Petter Baiestorf, responsável por diversos títulos independentes de trash nacional, e o músico Angelo Arede, compositor e vocalista da banda de saravá metal Gangrena Gasosa.

Robusta (com 380 páginas), Narrativas do Medo 2 de fato confirma a tendência de alta da literatura de horror. “Há muita produção hoje em dia e vários autores têm se destacado de cinco anos pra cá,” conta Vitor Abdala. No entanto, para o organizador, essa produção carece de amadurecimento: “Ainda temos muito material de baixa qualidade”.

Abdala atribui esse fato a uma certa ansiedade. “Com as facilidades atuais de publicação física e digital, muito escritor novo corre para publicar o primeiro texto que escreve. Acho é preciso amadurecer antes de resolver publicar alguma coisa”, conta ele, que é autor de duas antologias de contos de horror — Tânatos (VCA) e Macabra Mente (Giostri) — e em breve lançará seu primeiro romance.

Para que essa evolução ocorra, Abdala propõe oficinas de escrita que “ajudam”. Mas é indispensável o papel de editores e de leitores críticos: “A autopublicação muitas vezes não passa por nenhum crivo de qualidade. Não há nenhum editor ou agente avaliando a obra. Então, é comum que o livro/história chegue ao público com apenas uma avaliação: a do próprio autor.”

Trata-se de um processo, sem dúvida. Mas que já vem ocorrendo e que, felizmente, é inevitável. Pois leitores de horror, o Brasil tem aos montes, como qualquer lista de livros mais vendidos pode comprovar. Autores talentosos, também há por aqui. E publicações como Narrativas do Medo cumprem o importante papel de ligar um grupo ao outro.



Comentários
2 Comentários

2 comentários :

  1. Nossa nao fazia ideia, eu comprei uma leitura nacional de quadrinhos baseados em HP Lovecraft, mas esse ai ainda nao conhecia!

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  2. Muito bom, ainda mais por ser nacional. Adoro livros de horror. Bjs

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* Pode deixar seu link ai *-* Com todo o prazer eu irei visita-lo.

Kleyde Azevedo. Canceriana, 25 anos, Baiana, Escritora, 5 livros publicados, Engenheira Eletricista e pós graduanda em energias renovavéis. Apaixonada por Harry Potter, livros, séries, chocolates, cheiro de chuva, culinária e viagens. Fotógrafa amadora e atriz nas horas vagas. Não começa o dia sem uma xícara de café nem termina sem uma de chá.

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